As histórias da colonização e as peripécias vividas por sete memorialistas foram contadas no “Prost: as peripécias da colônia”, encerrando a programação especial do dia 25 de julho, no Espaço Sicredi Nova Petrópolis. No dia que marcou os 200 anos da imigração alemã, o 51º Festival Internacional de Folclore promoveu um momento para reunir as histórias que não se encontram nos livros. Adélia Hillebrand, Lair Goldbeck, Astor Boelter, Mario Konzen, Helena Seger, Ivoni Nör e Carina Schildt contaram relatos engraçados e marcantes dos colonos e das comunidades.
A conversa foi mediada por Jussara Prates, Pedro Scheer e Sílvio Peters, que conduziram o bate-papo para ouvir fatos e relatos dos memorialistas. A corte do Folclore Alemão, rainha Ana Luiza Kuhn; 1ª princesa Marluce Maldaner e a 2ª princesa Camila Caroline Schwaab abriram a noite. O prefeito de Nova Petrópolis, Jorge Darlei Wolf também prestigiou o momento que reuniu mais de 30 pessoas.
De origem italiana, Adélia Hillebrand abriu o Prost falando sobre as peripécias que viveu com a língua alemã convivendo com os familiares do marido, que só se comunicavam em alemão, logo quando veio morar em Nova Petrópolis. Adélia foi a fundadora do Böhmerlandtanzgruppe e aproveitou o momento para contar histórias que viveu sendo a “xerife” do grupo, quando assumiu a responsabilidade de fundar um grupo de danças na Linha Imperial, mesmo não sendo descendente de alemães. A memorialista ainda citou as importantes conquistas culturais que a cidade teve com a busca histórica realizada pelos grupos de dança em busca de referências das suas origens.
O professor Lair Goldbeck iniciou relatando uma história que não está registrada nos livros, mas que era contada por seus antepassados. Goldbeck descreveu o momento em que, durante a colheita de feijão, no verão, em um terreno repleto de tocos de árvores já cortadas, um casal encontrou uma pequena índia. O homem, receoso, disse para a mulher não tocar no bebê pois poderia ser uma afronta aos índios e isso poderia ocasionar em confronto. No entanto, a mulher, com seu instinto maternal - embora não tivesse filhos, acolheu a índia. De longe, viram uma tribo de indígenas que, após o acolhimento da pequena índia, se afastaram. O casal de colonos deu por falta de um saco de feijão depois de toda essa situação e entenderam o que havia acontecido: devido às dificuldades que os povos passavam, os índios haviam trocado a criança por comida. Em seu segundo momento de manifestação, Lair falou sobre as fake news da época e contou um momento em que a cidade seria atacada. A história foi espalhada pelas 23 linhas telefônicas que Nova Petrópolis possuía e pelas duas linhas de Picada Café.
Astor Boelter relatou uma história que seu avô contava. Em 1920, um mensageiro disse que os maragatos iriam invadir as terras da família. Preocupados, os homens se prepararam para o ataque e se esconderam no porão da casa. Enquanto aguardavam foram bebendo o vinho que estava armazenado na adega. Certas horas ouviram o relincho de um potro e saíram porta a fora para defender a propriedade e assegurar que os cavalos da família não seriam levados, mas se depararam apenas com o potro que os maragatos deixaram para trás. “Por um lado até foi melhor, porque evitaram o confronto”, finalizou. Boelter ainda contou outros relatos do bisavô e destacou que o casamento, na época, gerou intrigas porque um era católico e o outro luterano - motivo de desavenças familiares.
Mario Konzen falou da emoção de presenciar as celebrações dos 200 anos da vinda dos primeiros imigrantes. Durante sua manifestação, relatou fatos sobre a religiosidade e contou a história do padre Theodor Amstad, que viu a necessidade econômica que as pessoas que estavam aqui tinham, criando a primeira cooperativa de crédito, em dezembro de 1902. Konzen ainda tratou sobre a divisão religiosa que existia na época e o pioneirismo do padre na realização do primeiro culto ecumênico. Konzen contou fatos engraçados da imigração e histórias que demonstraram a bravura dos colonos que perseveraram para transformar a cidade e região no que é hoje.
Helena Seger utilizou seus momentos de fala no Prost para destacar as matérias e relatos que encontrou durante o processo de pesquisa para escrever o livro “Nossas mães e os sinos de Bochum | A saga do Tannenwald – uma colônia alemã”. Brincando com quem diz que o Pinhal Alto é outro país, a escritora disse “o Pinhal Alto foi país há muito tempo” ao citar os recortes de jornais que colocavam o “Tannenwald” no centro do mapa. Helena ainda contou sobre as cartas encontradas nos sótãos de casas antigas e conversas com aqueles que viveram a instalação dos sinos no Pinhal Alto e a preocupação quando a única pessoa que tocava o sino faleceu “quem agora vai puxar os sinos”, citou a escritora.
A professora e escritora Ivoni Nör contou sobre o encontro dos bisavós, ele, marinheiro dinamarquês e ela boêmia, e como se apaixonaram durante a viagem de vinda para o Brasil, que durou 103 dias. Quando chegaram no Brasil, o casal se separou, a bisavó teria ficado em Porto Alegre trabalhando em uma casa de família e o bisavô teria se estabelecido na Linha Araripe. Ivoni falou da sua busca na história para saber como foi o reencontro. Durante sua manifestação, a professora ainda falou sobre o seu sobrenome e as variações de escrita e pronúncia que foram ocorrendo com o passar do tempo. Ivoni ainda contou curiosidades sobre a BR-116 e narrou a inauguração da ponte do Rio Caí, destacando as expectativas dos alunos que participaram do ato de inauguração tinham em relação ao presidente Getúlio Vargas e como foi a reação deles ao conhecê-lo.
Carina Schildt falou sobre os recentes sentimentos gerados na comunidade devido às enchentes que atingiram São José do Caí e Linha Temerária. O medo, a escuridão e a angústia perseveraram nos primeiros dias de maio de 2024. O Rio Caí chegou no seu auge e o desespero tomou conta. Da janela da casa, Carina media o recuo da água pelo telefone público em frente à sociedade. Emocionando o público, Carina ainda contou a história da enchente de 1941, destacando que foi determinante para a comunidade porque onde a água parou foi construída a igreja da localidade, e citou as outras duas enchentes que vivenciou, enaltecendo que não se comparam à de 2024. Carina falou do espírito comunitário que se instaurou na reconstrução dos espaços e como a ajuda mútua marcou esse mês histórico. A professora e fundadora do Lustige Volkstanzgruppe Bergtal também pontuou como os momentos da história parecem que se repetiram durante os episódios da enchente e do esforço da comunidade para inaugurar o Memorial Caminho Pomerano de São José do Caí.
O “Prost: as peripécias da colônia” foi uma promoção do 51º Festival Internacional de Folclore, em comemoração ao Bicentenário da Imigração Alemã no Brasil, e contou com o patrocínio de Sicredi Pioneira. Os depoimentos e histórias foram gravados e serão disponibilizados, em breve, nos canais do evento. O intuito da ação foi reunir pessoas da comunidade para contar essas histórias e deixar registrado esses relatos para a posteridade, garantindo o acesso dessas informações para as futuras gerações, promovendo o legado cultural.
O 51º Festival Internacional de Folclore de Nova Petrópolis é uma realização da Associação dos Grupos de Danças Folclóricas Alemãs e da Prefeitura de Nova Petrópolis. O evento integra o calendário anual da IOV – Organização Internacional de Folclore e Artes Populares, o calendário de eventos oficiais do Rio Grande do Sul e, em 2024, as comemorações alusivas ao Bicentenário da Imigração Alemão no Brasil.
São patrocinadores do evento: Dakota - ser linda é ser feliz, Sicredi Pioneira, Supermercados Andreazza, Gula Alimentos, Banrisul, Suibom, Niruma Móveis, Cervejaria Traum, Seibt Máquinas, Cervejaria Edelbrau e Nova Imóveis. Apoiadores: Parque Aldeia do Imigrante, RBT Internet, You-C English School, Universidade La Salle, Eletrosom e Digi Sonorizações. Financiamento de Pró-Cultura RS – Lei de Incentivo à Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
TEXTO: TRIO Comunicação Integrada